CRÍTICA AO FINAL DE DARK
- Crítica de Séries
- 18 de jul. de 2020
- 7 min de leitura

A terceira e última temporada da série original da Netflix DARK estreou na plataforma digital mundialmente no dia 27 de junho de 2020 (dia do apocalipse de acordo com a série), e, até então só vem recebendo críticas positivas de grande parte do público.
O final está sendo considerado pela maioria dos fãs como coerente e compreensível com tudo que foi apresentado nessas três temporadas. A aceitabilidade do roteiro escolhido para o desfecho das viagens no tempo tem sido alta entre os telespectadores.
Nós do Crítica assistimos a temporada final duas vezes, e viemos aqui pontuar todos os acontecimentos e explicações importantes da terceira temporada para que você entenda e, principalmente, mostraremos também que da maneira que as tramas se desenvolveram este era o único final possível.
Na primeira e segunda temporada da série acompanhamos a história do que chamaremos de Mundo 1 (mundo do Adam/Jonas). Neste enredo de duas temporadas vimos a existência de um nó muito complexo que se formou entre as quatro principais famílias de Dark, Os Kanwald, Os Nielsen, Os Doppler e os Tiedemann. Por causa das inúmeras viagens no tempo as árvores genealógicas das famílias se tornaram confusas e extremamente entrelaçadas a um ponto que se tornou impossível ser desfeito. O pior é perceber que todos os problemas da série seriam resolvidos se as pessoas usassem camisinha, não é mesmo ?

Memes à parte, o Mundo 1 foi bem desenvolvido nas duas primeiras temporadas, e conseguimos ver que o personagem Adam realmente tinha o controle do tempo em seu mundo, e sempre fazia de tudo para garantir que tudo se repetisse (exemplo disso foi matar sua própria mãe Hannah por não pertencer aquela época) mesmo com a intenção de ao final destruí-lo. Esse ciclo se repetiu infinitas vezes. Contudo, no último desenlace, depois de inúmeros ciclos dele se certificando a ocorrência do loop para que pudesse se transformar em quem era e destruir a origem, Adam percebeu que a origem do erro não estava no filho que seu eu de outra linha atemporal teve com Martha.
Já o Mundo 2 foi introduzido na 3ª temporada, também fadado ao insucesso, com tantos nós e entrelaçamentos familiares que deixavam a sua árvore genealógica caótica. Os primeiros episódios da temporada final detalharam que as coisas aconteciam da mesma maneira distorcida, porém, não necessariamente com as mesmas pessoas, à mesma época e do mesmo modo. Nele, havia a figura da Eva, uma Martha envelhecida que fazia o mesmo papel do Adam, controlar tudo para que o ciclo se repetisse sempre no Mundo 2, para que seu filho vivesse, inclusive, os apocalipses que descobrimos nesta temporada eram justamente causados pelo Desconhecido, filho do casal principal.
Tanto Adam quanto Eva era os control freaks do tempo em seus mundos, os que mais viajaram, 66 anos, era de se esperar, assim, que tivessem mais experiência que os demais personagens, e, portanto, sendo os grandes líderes do Sic Mundus e Erit Lux. Contudo, essa liderança foi explicada na terceira temporada, no sentido de serem os precursores dos mundos alternativos 1 e 2 criados por HG Tannhaus no mundo original. O porquê especificamente os erros na Matrix serem os personagens Jonas e Martha não foi, entretanto, explicado.
Bom, para todo mundo que acompanhou o Mundo 1 se tornando o que era, e o Mundo 2 que seguiu o mesmo caminho provavelmente se perguntou ? F_ _ _ _, e agora ?
Realmente, a maneira com a qual os roteiristas conduziram a série levou a um entrelaçamento tão complexo entre as famílias, que se repetiam na árvore genealógica, sendo todo mundo relacionado por parentesco (todos descendentes de Jonas e Martha) que se tornava absolutamente impossível uma salvação para ambos os mundos. O que nos leva a crer que, caso houvesse alguma saída de salvação, metade dos personagens da série não teriam nascido para que houvesse um mínimo senso de normalidade.
Porém, em meio a essa complexidade absurda criada, os roteiristas com a imaginação mais fértil que terras vermelhas introduziram um mundo originário, ou, mundo real - já que a série fez alusão ao filme Matrix que aborda realidade simulada ou irreal.
Neste mundo originário, o relojoeiro HG Tannhaus perde o filho, a nora e a neta em um acidente de carro. Após o acidente, inconformado, resolve criar uma máquina do tempo para trazê-los de volta à vida. Contudo, a experiência dá errado e ao ligar a máquina o velho relojoeiro destrói o seu mundo e cria não uma, mas 2 dimensões diferentes, os mundos 1 (Adam) e 2 (Eva).
Mas, o problema foi, como já diria um famoso grupo de axé brasileiro: “pau que nasce torto, nunca se endireita !”. As duas dimensões criadas por Tannhaus no mundo Gênesis foram erros gerados pela tentativa frustrada da viagem no tempo. E, obviamente, não teriam como dar certo. Assim, depois de infinitos ciclos iguais, um déjà vu infinito que sempre se repetiu até a eternidade, tudo chegou a um fim.
A diferença desse último ciclo foi a inteligência adquirida pela personagem Claudia que mudou o rumo da história de Winden. No entanto, o motivo deste ser o “último” ciclo passou desapercebido. O que sabemos é que quando o apocalipse acontecia o tempo parava por uma fração de segundos, e, esse período curto de tempo permitia que o personagem que tivesse esse conhecimento sobre a “quebra do tempo” conseguisse se ramificar e cada versão dele tomasse um caminho diferente (exemplo disso é a Martha que em uma ramificação salvou o Jonas do apocalipse e morreu nas mãos do Adam, e, em segunda versão foi salva por Bartosz e se tornou a Eva).
Além disso, vimos que a ramificação mais importante da série, a que realmente surtiu o efeito esperado e acabou com tudo, foi quando Adam viaja ao mundo 1, salvando seu eu jovem do apocalipse e criando uma nova possibilidade (linha temporal) para o Jonas. A que deu certo.
Mesmo com esse final simplista escolhido alguns questionamentos dos fãs surgiram nesta temporada: havia necessidade da criação do mundo 2 ? E, principalmente, havia necessidade da série dedicar 6 episódios detalhando este segundo mundo para nos trazer uma sensação incômoda de déjà vu? Claro, o final com Jonas e Martha destruindo tudo foi poético, e sem esse clima romantizado talvez não teríamos achado tão cenograficamente bonito. Mas, alguns consideram um desperdício de tempo de narrativa a introdução de um mundo 2 nesta última temporada sendo que o mundo 1 já era suficiente e já tinha um milhão de perguntas a serem respondidas.
Outro ponto prolixo desta última temporada é o utensílio utilizado por Martha para viagens no tempo. Diferentemente de tudo que estávamos acostumados na temporada 1 e 2 sobre a passagem secreta na usina ou a máquina do tempo que utilizava o componente radioativo Césio e um celular, simplesmente introduziram um novo apetrecho em forma de esfera que inexplicavelmente reunia todos os componentes necessários pra viagem do tempo, e, pior, quebrava o ciclo de 33 anos podendo seu utilizador viajar para qualquer ano e dia desejado.
No entanto, mesmo com esses questionamentos, a introdução do mundo 2 foi essencial (talvez os detalhes nem tanto, justamente por essa sensação de dejá vu arrastado em muitos espectadores) para o desfecho final do enredo proposto. Explicamos.
Provavelmente possa ter passado desapercebido mas a série sempre fez questão de desmistificar a ideia de dualidade. Preto e branco, luz e trevas, certo ou errado. A inexistência de apenas duas realidades foi introduzida nos nossos subconsciente aos poucos, tanto que esse final com uma terceira dimensão já era esperado para quem conseguiu prestar atenção nesses detalhes subliminares. E aqui estão as evidências:


Além disso, logo na abertura da série podemos conferir o efeito caleidoscópio usado, muitas vezes formando tríades ! Isso mesmo, estava bem na nossa cara, como não vimos ?

Existia uma terceira dimensão !! O velho HG Tannhaus no mundo original tentou trazer sua família de volta, e, ao fazê-lo, dividiu e destruiu o mundo dele. Dessa divisão foram criados os mundos alternativos. Ou seja, foi praticamente um big bang do mundo moderno!
A tríqueta, que como mostramos já tinha sido introduzida na série, representa as três dimensões existentes em Dark. Na verdade, é um símbolo muito antigo da cultura celta que traduzida do latim significa três encurralado. A ideia é de círculos de existência onde as pontas representam as tríades. Há três círculos e cada um tem um significado, mas, não vamos entrar na aula de História aqui.
A questão é que a destruição da dimensão verdadeira e a repartição da mesma em duas outras, como a própria personagem Claudia Tiedemann afirmou serem "um câncer que deve ter saído de outro lugar e se ele é removido, tudo que nasceu dele é destruído”.
A saída dos produtores Baran do Obar e Jantje Friese foi inteligente e bem pensada. Simplista, o arco narrativo trouxe uma solução para os problemas criados com as viagens no tempo e assim encerrou a história trazendo uma sensação de dever cumprido.
Desta forma, podemos pensar a série como uma quebra-cabeças. No começo, despertou toda uma adrenalina e apreensão de querermos desesperadamente colocar as peças nos lugares e encaixa-las. Essa sensação de mistério e ansiedade para assistir logo a trama e descobrir quais eram as peças nos moveu nas duas primeiras temporadas. E foi esse entusiasmo que manteve a série sempre interessante (além da sonoplastia aterrorizante que nos deixou com muito medo).
Por fim, na última temporada, o puzzle foi completado e trouxe uma sensação de satisfação pela conclusão do quebra-cabeças que foi Dark e, ao mesmo tempo, de vazio por não ter mais nada e ser aquilo e ponto. O fim dos mundos que não deveriam ter existido para começo de conversa. Quebra-cabeças concluído e destruído.
Se você não entendeu o final ou a trajetória de algum personagem (que se apresenta irrelevante uma vez que eles foram apagadas) a Netflix tem um site que explica tudo —> https://darknetflix.io/en basta ir lá conferir e esclarecer todas as suas dúvidas !
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